Minha mãe conheceu meu pai quando veio de Recife para São Paulo. Não sabia que ele tinha um problema visual tão sério quanto o dela. Se casaram e só depois minha mãe ficou sabendo da gravidade do problema visual do seu parceiro.
Pensou muito em ter filhos, pois sabia que herdaria o mesmo problema já que ambos o tinham. Nasci quando minha mãe tinha quase 40 anos de idade!
Cresci com deficiência visual, nunca estudei em escolas adaptadas, inclusive na faculdade. Agradeço muito a meus pais por terem me criado sem nenhuma diferença ou privilégio, a cobrança era sempre maior para que eu soubesse como realmente a vida é. Foi a melhor criação que tive! Hoje sei lidar com o preconceito alheio e a dor que ele traz, porque dizer que isso não acontece é hipocrisia demais.
Passei por todo processo psicossocial de revolta, negação e aceitação. Não vou dizer que foi fácil, pelo contrário, mas são fases necessárias para nosso fortalecimento e amadurecimento.
Hoje eu não enxergo do olho esquerdo e tenho 15% somente da visão direita com o óculos. Uso minha bengala para me locomover e tenho muito orgulho de quem sou. Amo minha forma de ser, me aceito com todas as particularidades.
Sei lidar com o preconceito alheio e a dor que ele traz, porque dizer que isso não acontece é hipocrisia demais.
Lembrando que parte da conscientização social depende da nossa própria postura mediante ao preconceito e falta de conhecimento, ou seja, somos nós a nossa melhor ferramenta.