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  • Foto do escritorCristina Eustaquio de Oliveira

Ceia natalina: será que ela representa nossa real identidade?

Como é que o peru,   uma comida tradicional do dia de ação de graças dos Estados Unidos  —  foi parar na nossa mesa? Desconfio que a publicidade conseguiu nos convencer que era isso que deveríamos servir para um Natal digno de novela. Preciso fazer um apelo: deem valor ao nosso frango caipira. À nossa leitoa à pururuca. Ao nosso pernil, com um molho de laranja-pêra - fruta cuja sazonalidade coincide com o Natal por sabedoria da natureza. 


Aos que não comem proteína animal, não faltam opções de vegetais que podem ser valorizados por aquilo que une todas as tribos dietéticas em dia de festa: o forno. Não foi atoa que Claude Lévi-Strauss, um dos maiores pensadores do século 20, estreou sua coleção sobre mitos de povos indígenas americanos com o volume “O cru e o cozido”. A reflexão de Lévi-Strauss sobre as narrativas que conectam povos do norte ao sul das Américas passa pela comida. A passagem do cru ao cozido representa nossa evolução. E o forno, no meio disso, é o símbolo dos dias de festa e fartura porque é o preparo feito a partir do desperdício dos sucos dos alimentos. 

Se o Natal é um grande ritual, então que ele faça sentido para quem o celebra. Que a surdez latino-americana não nos faça repetir um cardápio colonizado e vazio de sentido. E de lógica. O peru é comido no frio dos Estados Unidos, não no calor insuportável desse Brasil de meu Deus. Nossas frutas sazonais de dezembro são cítricas, refrescantes, cheias de água:  melão, melancia, maracujá, laranja, manga, limão   pela sabedoria da Terra. 


Por que negar, então, esse presente? Que o Natal seja outro por autodeterminação. Por escolha. Por comunhão com aquilo que a terra nos dá e que nós, com a nossa própria sabedoria  —  nosso sagrado jeitinho  —  preparamos com tanto carinho. Por acreditar que aquilo que está na mesa pode representar nossa intenção para a chegada de liberdade com amor, solidariedade e esperança.


Texto adaptado do site "O joio e o trigo"

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