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  • Foto do escritorNádia de Mello

Descosturando uma vida, ou uma peça...

Imagem de Foundry Co por Pixabay

Em quase todo lugar que vou, atualmente, levo comigo alguma peça de roupa e meu desmanchador de costura. Sabe aquela cena de pessoas no transporte público, por exemplo, que tricotam ou fazem crochê? Sou eu descosturando minhas peças.


Para quem não sabe, o processo de descostura se torna um exercício de muita paciência porque tem de ir “cortando” costura por costura para não rasgar e conseguir reaproveitar toda peça.


Recebo muitos olhares curiosos, algumas pessoas se aproximam e perguntam o que estou fazendo, outras perguntam se é costura e por assim vai. Com uns, rolam conversas bem legais sobre moda, roupas, trabalho. A maioria que conversa é porque já teve alguma experiência com roupa e quer compartilhar.


Recentemente, tive um diálogo com uma mulher sobre a descostura e a costura que foi muito interessante e serviu de inspiração para escrever este texto.


Ela, que já havia trabalhado como arrematadeira para algumas empresas, me viu e pensou o quanto aquilo podia ser terapêutico porque foi assim para ela. Eu disse que nem sempre, porque, algumas vezes, perco a paciência por ser um trabalho tão repetitivo e tão de pouquinho e pouquinho.


O que a fez comparar com a costura que, embora, mais rápido, se tiver um erro já é problema e na descostura, não.


Isso me fez pensar sobre a vida.


Talvez tenhamos esse mesmo processo.


Imagem de adriankirby por Pixabay

O nosso construir talvez seja muito mais rápido do que desconstruir (um conceito, uma ideia, um hábito). Mas também mais “fechado”, sem muitas possibilidades de erro ou reparo dele.


Enquanto, no desconstruir, o mesmo é encarado de frente, de forma mais leve, com um olhar de “conserto” ou criação de uma outra possibilidade.


Talvez o descosturar, embora requeira muita paciência, também nos abra para lidar com o que em nossa construção não nos permitimos. Talvez nos mostre que erros podem ser pequenos e que está tudo bem.


Talvez o descosturar leve a um lugar de terapia em que se encare frente a frente as muitas possibilidades de construção e reconstrução de mundos.

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