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Gladis: da escravidão ao empreendedorismo

Gladis Paredes, 38, é uma imigrante boliviana que chegou ao Brasil em 2007 acompanhada de sua família, ansiando por uma futuro melhor e com o objetivo de superar alguma dificuldades vividas em seu país natal. Acontece, que a realidade que a esperava aqui era bem diferente da imaginada.

Uma proposta de trabalho em uma oficina de costura na cidade de São Paulo surgiu para a boliviana que, com experiência na área, resolveu aceitar o cargo que oferecia um bom salário e a promessa de oportunidades de vida, acesso a cultura e educação para ela e sua filha, na época com dois anos.

Com uma carga horária de mais de 12 horas e tendo que morar dentro da própria oficina, sem a possibilidade de sair e aproveitar momentos de lazer com sua filha, Gladis se viu no meio de uma situação de trabalho análoga à escravidão: “Eu não tinha direito de reclamar, nem de sair.


imigrante vivia quase como escrava
Gladis em sua oficina (Foto Acervo Pessoal)

Eu tinha que ficar de boca fechada e obedecer o dono da oficina”. Além disso, sua filha precisava ficar trancada em um quartinho para não atrapalhar quem estava trabalhando no local, ficando sem contato com o mundo fora das paredes da fábrica.

Seu marido mudou-se para o país 3 meses após a chegada de Gladis e, como ela, começou a trabalhar na mesma oficina de costura. A situação da família se tornou ainda mais crítica com a chegada do cônjuge: “Eu não conseguia falar português e quando fui até uma farmácia para comprar remédios (anticoncepcionais), não conseguiram compreender o que eu pedia e acabei não comprando nada. Engravidei”. A gravidez de Gladis fez com que o dono da oficina a fizesse pagar uma taxa extra para poder viver no local de trabalho, incitando brigas entre o chefe e o esposo de Gladis, e que levou a família a sair dali para trabalhar em outro local, “pensamos que ficaríamos bem, mas foi a mesma coisa”.


Grávida de seis, Gladis foi obrigada a trabalhar das 07h da manhã até 00h, muitas vezes proibida de ir até o posto de saúde para fazer pré-natal e sendo impedida de ser atendida em domicílio pelos funcionários da saúde que a procuravam na oficina. A sua situação começou a dar uma melhorada quando a boliviana iniciou uma amizade com uma brasileira que sempre a visitava questionando sobre sua saúde e situação no trabalho. Em uma dessas visitas, Gladis estava com uma febre muito alta e foi levada até um hospital da Zona Leste por sua amiga. “Ela praticamente me salvou. Precisei ficar 15 dias internada, meu bebê ficou bem mas acabou nascendo prematuro”.


Ao notar como as explorações no trabalho lhe faziam mal, Gladis resolveu largar o trabalho na oficina de costura e correr atrás de ajuda para regularizar seus documentos e de sua família. Ela encontrou apoio no CAMI - Centro de Apoio ao Imigrante, um espaço de referência no Brasil na promoção e defesa dos direitos humanos dos imigrantes, onde teve a oportunidade de realizar diversos cursos e conhecer pequenos empreendedores.


Atualmente Gladis possui sua própria oficina de costura, que começou com apenas uma máquina de costura emprestada pela amiga que salvou sua vida. Sem desistir, ela correu atrás dos seus sonhos e buscou se informar sobre leis trabalhistas e contra a escravidão.

Hoje em dia contar sua história de superação é algo dolorido, devido as lembranças, mas nada comparado com anos atrás, afinal, sua chegada ao Brasil “foi muito triste, mas hoje conto com firmeza sobre o que passei. Anos atrás eu sempre chorava para falar sobre isso pois é algo muito triste. Não imaginava passar por tudo aquilo, me sentia amarrada, com medo. Mas encontrei coragem e fé em Deus de que aconteceria algo bom em minha vida. Conheci pessoas que me informaram e me ajudaram a sair daquele lugar que não é bom pra ninguém”.

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