Honrando as mulheres da família
- Maria Lucia
- 24 de set. de 2019
- 3 min de leitura

Esta semana recebi um texto que me emocionou muito e me fez refletir mais ainda, o texto se chama "carta a mulher que pode mudar o destino das mulheres de sua família". Eu sou esta mulher, mas não sou única: antes de mim veio minha mãe, a minha frente esta minha filha.
A reflexão é como nós mulheres estamos sempre promovendo mudanças que refletem direta ou indiretamente na nossa história e daqueles que estão ao nosso entorno, e também como reproduzimos histórias.
Minha mãe, casou se jovem, com apenas 17 anos, e logo teve seu primeiro filho, que faleceu de causa desconhecida. Naquela época e no lugar em que ela vivia, não havia acesso a medicina, tão pouco pré-natal. Mães e filhos morriam nos partos, sem ninguém saber de que ou porquê.
Mas aquela jovem mulher teve outra criança, e num ato de coragem deixou sua menina aos cuidados de parentes e se aventurou do sertão da Bahia para o interior de São Paulo, juntamente com seu jovem esposo em busca de melhorar de vida.
Assim que as coisas se estabeleceram, ela mandou buscar a filha pequena, e neste novo desconhecido teve outra filha, que faria diferença nesta linhagem: Euzinha.
Minha mãe foi a primeira mulher de sua família, a deixar o sertão em busca do novo. Uma mulher de muita coragem para a época e condições em que vivia, semianalfabeta e pobre.
Minha mãe abriu as portas para que seus irmãos e demais parentes fizessem o mesmo.
Eu nasci e cresci em condições muito melhores a de minha mãe, pude estudar quando criança, e ter escassos brinquedos que ganhava todo final de ano da empresa em que meu pai trabalhava. Minha mãe não era o tipo de mulher amorosa (não sabia o que era isto porque não teve), mas sempre foi muito cuidadora. Eu como mãe, tentei ser as duas coisas. Se na infância estudar até o antigo ginásio era o suficiente, descobri depois que necessitava de mais. E se casar e ter filhos para minha mãe bastava, eu igualmente necessitei de mais, muito mais!
Fui a primeira mulher da família a me divorciar, e assumir minha orientação sexual. Não sei dizer o quanto isto foi danoso ou revolucionário, mas fiz. E continuei fazendo. Me divorciei, deixei meus filhos com o pai (que fique claro que foi a melhor opção no momento e sempre desejei tê-los comigo), me inseri no mercado de trabalho, voltei a estudar, e por fim, deixei o emprego, mudei de estado, busquei minha espiritualidade, me aventurei. A cada dia me descubro, me percebo, me reinvento. Tenho medos tolos, coragem absurda, perco o sono, choro. Tento entender a diferença entre solidão e solitude, entre tristeza e depressão. Ainda sou uma mulher em construção. Posso garantir que fiz coisas que minha mãe nunca sonhou fazer, ou se sonhou nunca ousou pronunciar. Sei que não farei metade do que minha filha fará.
Minha filha segue o caminho destas mulheres corajosas (ou loucas). Foi a primeira da família a cursar uma faculdade, foi a primeira a estudar no exterior, circula em qualquer roda, qualquer meio, transita entre diferentes mundos com absoluta segurança de ser quem é. Fala o que pensa, perdas e abandonos a fez assim. Não pensa em ter filhos, o que acho uma pena, porque imagino como seria sua cria e o quanto revolucionaria, esta linhagem de mulheres mornas. Mas aceito e respeito sua escolha, da mesma forma que ela sempre respeitou as minhas. Minha filha pensa ser de aço, como eu e minha mãe já pensamos ser.
Há o medo de não dar conta, de não ser capaz, de ser individualista (eu, ela, mammys!!), e todas as outras mulheres deste planeta. O medo de romper amarras, de contrariar os que amamos, por medo de perde-los. Mas este medo ainda que por vezes nos paralise, não nos impede de seguir em frente, lutando, amando, revolucionando e honrando esta legião de mulheres fortes e nobres que estão atrás de nós e nos empurram a frente, para que as mulheres que estão por vir, também sejam capazes de realizar os seus sonhos, e acima de tudo de se amarem.
Ainda que no silencio e no escuro de nossos quartos ou pensamentos, nos abraçamos silenciosamente em busca de um colo e de um afeto, nos momentos em que nos damos conta que somos apenas mulheres em busca da felicidade.
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