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  • Foto do escritorMaria Lucia

Mundo real x mundo virtual



Estou lendo o livro de Leandro Carnal, " O dilema do porco espinho", no livro o autor fala sobre como encarar a solidão. Logo nas paginas iniciais, Carnal fala sobre a não solidão de Adão. Deus acabara de criar o mundo e tudo que nele existia, contempla fascinado sua criação, e repentinamente se depara com a solidão de Adão. Deus não havia criado, para aquele que era a sua imagem e semelhança um correspondente. Adão não tinha par!


Isto aparentemente não foi um problema para Adão, que "recém criado" tinha um mundo todo para descortinar, centenas de especies para conhecer e se divertir. Adão estava feliz, não sentia falta de uma companhia, até porque não sabia o que era isto. Deus, a fim de corrigir seu suposto erro, faz com que Adão adormeça profundamente e de sua costela cria Eva.

Adão após acordar de seu sono, se depara com um semelhante seu e se regojiza com isto, não porque era mulher e tinhas curvas sinuosas. Diferente dos outros animais, Eva se parecia com ele, então Adão se vê como num espelho e tem o primeiro autoconhecimento, ou reconhecimento.


Para mim, foi a partir dai que se inicia um grande dilema da humanidade Adão que não tinha pai, mãe, irmãos ou qualquer outro tipo de parente de quem pudesse sentir falta ou saudades, ou dar satisfação, tem agora uma "esposa", que não foi escolhida, desejada ou querida por ele, mas imposta. Será que Adão queria uma Eva? Será que caminhar sozinho por aquela imensidão chamada mundo, não lhe seria agradável? Será que ter um animal de estimação, a sua escolha, não teria sido suficiente para Adão? Adão teve direito a escolha? Existiu livre arbítrio para Adão? Afinal, Adão queria ou realmente precisava de uma companhia ou a solidão foi de Deus?


Decorridos milhares de anos, vivemos o mesmo dilema, a necessidade de termos alguém, numa sociedade que esta cada vez mais individualista. Será que a sociedade esta individualista ou nós sempre fomos assim?


Adão se contentava e sentia felicidade plena em olhar para a tela real do universo recém criado, e se divertia dando nomes as coisas, como não havia criticas, qualquer nome servia: cadeira para aquilo que deveria ser sentador, pés para o que deveria ser pisantes, e por ai afora.


Hoje nos isolamos, separados uns dos outros por uma tela de aproximadamente 8x15", aonde repletos de amigos virtuais, não conseguimos alcançar o outro, porque perdemos ou por vezes não desenvolvemos uma característica chamada empatia, que é se sentir no lugar da pele do outro. O contato físico deve ser feito com extremo cuidado para não ser considerado abuso, desconhecemos o olhar do outro, o rechaçamos porque não o vemos como nosso semelhante, e sim nosso concorrente.


Estamos vivendo o maior individualismo da história humana, desde que Adão foi presenteado com sua Eva. E voltamos a uma pratica medieval muito conhecida, e já imaginada extinta: os duelos.

Duelamos com os egos. A necessidade da felicidade plena, do sorriso, do estar bem, faz com que criemos mundos irreais, cujo objetivo é sempre mostrar ao outro que estamos, ou somos melhor que ele. Temos que estar plenos, belos, sorridentes. Escolhemos o melhor angulo para postar a foto, sorrimos para a câmera, fazemos a melhor pose, no melhor lugar, de preferencia que tenha uma placa indicando que "estivemos lá".


Esse mundo perfeito exposto na mídia social criou uma disputa entre as pessoas, aonde um pensa que o outro está melhor que ele, então, é você que tem que correr para alcançá-lo, criando cada vez mais a ilusão da perfeição. Imagens bonitas, caras sorridentes, amores perfeitos.


A concorrência não é só resultado dessa sociedade virtual, mas também, com o aumento da população e da globalização, a competição tornou-se mais acirrada.

Deixamos de dar prioridade a nós mesmos, e passamos a valorizar a mentira que criamos, deste modo temos que nos manter cada vez mais afastados do outro pois quanto mais pessoas “sabem” sobre nossa vida nas redes sociais, menos questão fazemos de efetivamente estar com as pessoas, pois elas podem comprovar o contrário do que é exposto virtualmente.


Ao contrario de Adão, que nunca se deu conta de sua suposta solidão, seguimos sem dar conta que estamos cada vez mais solitários, a medida que aumenta a quantidade de amigos virtuais e curtidas no nosso universo virtual.

Adão, depois de Eva, só tinha uma pessoa a ser convidada para sua festa de aniversário. E você? Quantos amigos reais, certamente compareceriam a sua festa?



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