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  • Foto do escritorMaria Lucia

Nos bailes da vida

Era uma vez uma menina do interior que ainda pequena foi morar na cidade grande. Para ela a "cidade grande" era aquele prédio na marginal Tiete que tinha uma árvore verde enorme, de luzes que brilhavam na noite escura e estranha, aquele rio imenso que margeava a avenida e que o ônibus de prata, expresso e veloz como era, cruzava rumo a rodoviária. A menina tinha sonhos? Devia ter como toda criança, mas naquela época era proibido sonhar.


Um dia indo ao médico com sua mãe, a menina cruzou a mais paulista das avenidas, e da janela olhou vislumbrada os enormes prédios. Alguém tem ideia do tamanho do encantamento que um prédio provoca em um criança, sobretudo as matutas? E naquele dia a menina sonhou: quando crescesse ela iria trabalhar naquela avenida, num daqueles prédios, e teria uma mesa para chamar de sua, e nela teria um vaso e um porta retrato para colocar a foto do seu amor.

A vida deu um baile na menina, e ela dançou conforme tocava a música, e bailou feito folha no ar.


E um dia a menina já não mais tão menina, realizou o seu sonho, que já não era mais sonho, era necessidade, e teve uma mesa para chamar de sua, com o vasinho de violeta e o porta retratos, com a foto dos seus amores. Amores no plural, a menina agora era mãe e tinha aprendido os diferentes tipos de amor e descoberto o mais valioso deles.


Mas agora a menina mulher tão sacudida pela vida não sabia mais parar, e novamente se deixou levar pelos bailes da vida, e dançou, dançou novamente. E novamente se entregou ao sonho, aquele dos amores de novela, que só existem nelas. E o sonho agora era voltar a ser menina, numa pequena cidade do interior.


Não mais a mesa com o vasinho de flores, mas muitas flores nos vasos, não mais o porta retrato dos amores, mas o amor retratado em todos os cantos.

E o tempo passou, e a vida como se fosse um passatempo me trouxe novamente a dança, e agora a mulher, cuja menina perdeu-se, de novo se vê na sala com o vaso sobre a mesa e do lado o porta retrato, com os seus amores infinitos e incondicional, este amor verdadeiro que não cessa, que baila comigo seja qual for a dança e o som que se apresenta.


Nem menina, nem mulher, nem cidade grande ou pequena, nem sonho ou necessidade, apenas vida, no seu dia a dia, a cada dia, a espera do sonho de dançar novamente.

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