Moda com Propósito, livro de André Carvalhal, é leitura obrigatória para quem deseja entender conceitos básicos do consumo e da moda consciente. Entre seus insights, André escreve: “A economia do patrimônio individual e do status parece estar falindo. Alguns estão começando a mudar velhos hábitos. Muitos estão percebendo que quanto menos quiserem ter, menos dinheiro precisarão, e estão se movendo em outra direção, na qual trocar, pegar emprestado, comprar em grupo passa a ser uma alternativa para uma vida mais leve, menos dependente de dinheiro”. Uma nova Era, novos tipos de economia.
A Rede Design Possível e a Ideia Circular são projetos que entenderam, há muito tempo, os “novos” caminhos que André apresenta em seu livro ao falar sobre economia.
Criada inicialmente como um projeto de extensão de curso da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a Design Possível é uma rede de inovação social que trabalha com economia solidária há mais de 10 anos. “O Capitalismo prioriza, acima de tudo, o dinheiro (...) e dentro da economia solidária nós priorizamos as pessoas. Isso muda todas as relações: desde a produção até como o produto será feito (matéria-prima e mão de obra)” explica Natália, sócia da cooperativa de design da Rede Design Possível.
“As pequenas marcas, produtores e empreendedores são os que mais nos procuram. Eles querem trabalhar com economia colaborativa, circular e solidária, querem ter a confiança de que o produtor está sendo bem remunerado, que têm condições justas de trabalho, sem exploração”, comenta Natália sobre como nos últimos anos muitas empresas estão percebendo como é importante colocar em prática conceitos da economia solidária, principalmente quando envolve responsabilidade social. Nesse âmbito, a Design Possível faz a mediação e todos os processos (desde comunicação e planejamento) para ajudar os interessados a colocar em prática valores de uma sociedade mais responsável.
A Ideia Circular é uma iniciativa de comunicação e educação voltada para economia circular que está desde 2014 na ativa, e vem trabalhando com conceitos da economia circular e do Cradle to Cradle - título do livro-manifesto do arquiteto William McDonough e do engenheiro químico Michael Braungart sobre maneiras mais ecológicas de produção.
Ao lado de Léa Gejer, Carla Tennenbaum ajuda pessoas e empresas a entenderem como é possível criar produtos cujo destino não será o lixo, mas sim a reutilização. “Trabalho com design de resíduos desde 1999, e vinha com questionamentos na área. O Cradle to Cradle trouxe essa perspectiva de que não adianta nada gerenciar os resíduos lá no final da produção, mas que precisamos pensar desde a concepção do design o que irá acontecer com eles”, comenta Carla.
Quando começaram os trabalhos de implementação do Cradle to Cradle e da economia circular nas empresas brasileiras, a dupla percebeu que por mais que os conceitos fossem conhecidos lá fora e até colocados em práticas por alguns aqui, ainda faltava entendimento sobre o assunto. Segundo Carla, a Ideia Circular busca contribuir trazendo profundidade e critérios para o debate, mostrando que não é tudo que pode ser circular e que devemos pensar com cuidado todo o processo.
As economias da nova Era da moda têm como foco desenvolver a responsabilidade e os processos sociais de uma marca, tornando-a mais responsável pelas condições de quem trabalha na produção, valorizando o trabalho e prezando pelo pagamento justo; além de trabalhar com conceitos de sustentabilidade, incentivando um design responsável que preza pelo menor descarte possível de lixo e pela reciclagem.
Parceira da Design Possível, a Feira Jardim Secreto acontece no bairro do Bexiga e “tem um espaço só para empreendimentos da economia solidária, e divulgam também o que é e qual a importância (desse tipo de economia)”, comenta Natália sobre como esses novos tipos de economia são colocados em prática, e completa: “Realizamos um projeto com uma grande empresa de seguros, onde os voluntários ao invés de irem pintar paredes de escolas ou fazer algum serviço braçal, usaram o que eles tinham de melhor, de conhecimento e o que fazem na empresa e ajudaram dois grupos de impacto social, o Imagem (coletivo de arte do Grajaú) e o Arrastão (uma ONG de quase 50 anos que tem no Campo Limpo)”.
Inovações e projetos voltados para uma moda e consumo circular, solidário e colaborativo já são realidades (como apresentados acima), mas para Carla a preocupação com o greenwashing já começa a acontecer com a economia circular aqui no Brasil: “O que nós podemos fazer para evitar essa apropriação é uma explicação mais profunda dessa ideia, desmistificar o que é ou não, e criar critérios para definir o que é economia circular”, pois muitas vezes marcas estão trabalhando apenas com gerenciamento de resíduos, mas o impacto deve começar no momento do design e não apenas na hora da reciclagem.
Na moda temos grandes inovações na área de pesquisas e desenvolvimentos de peças, seja por meio do upcycling ou na utilização de fibras de tecidos que são recicláveis, materiais do ciclo biológicos que são seguros para serem compostáveis e produtos certificados.